quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Pausa para inventar a realidade



"Oh, como folgou nosso bom cavaleiro em tendo feito este discurso, e mais quando achou dar o nome de sua dama! E foi, ao que se crê, que num lugar perto do seu havia uma moça lavradeira de mui bom parecer, de quem ele andou enamorado um tempo, ainda que, segundo se supõe, ela jamais o tenha sabido ou ele mostra de tal dado. Chamava-se Aldonza Lorenzo, e a esta pareceu-lhe dever dar o título de senhora dos seus pensamentos; e, buscando-lhe nome que não descondissesse muito com o seu e que se aproximasse e se encaminhasse para o de princesa e grande senhora, acabou por lhe chamar Dulcineia del Toboso pois era natural de Toboso: nome, segundo lhe parecia, musical e peregrino e significativo, como todos os demais que a si mesmo e a suas coisas havia posto."
Miguel de Cervantes, Dom Quixote de la Mancha

A realidade é a vontade própria dos delírios deste que escolhe para si próprio o nome de cavaleiro andante Dom Quixote, defensor da honra de quem não quer, lutando e sofrendo num mundo só por ele sonhado. Aproprio-me dele, re-crio, re-escrevo-me... Será que ler demais fará assim tão mal?...



2 Comments:

Blogger Navalha said...

e todos os outros se deleitam ao verem um sorriso que mais parecia ser de criança enquanto um livro abandona o seu casulo num saco de olástico.

26/2/06 22:37  
Blogger Navalha said...

plástico, digo.
P.

26/2/06 22:37  

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