quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Pausa para inventar a realidade



"Oh, como folgou nosso bom cavaleiro em tendo feito este discurso, e mais quando achou dar o nome de sua dama! E foi, ao que se crê, que num lugar perto do seu havia uma moça lavradeira de mui bom parecer, de quem ele andou enamorado um tempo, ainda que, segundo se supõe, ela jamais o tenha sabido ou ele mostra de tal dado. Chamava-se Aldonza Lorenzo, e a esta pareceu-lhe dever dar o título de senhora dos seus pensamentos; e, buscando-lhe nome que não descondissesse muito com o seu e que se aproximasse e se encaminhasse para o de princesa e grande senhora, acabou por lhe chamar Dulcineia del Toboso pois era natural de Toboso: nome, segundo lhe parecia, musical e peregrino e significativo, como todos os demais que a si mesmo e a suas coisas havia posto."
Miguel de Cervantes, Dom Quixote de la Mancha

A realidade é a vontade própria dos delírios deste que escolhe para si próprio o nome de cavaleiro andante Dom Quixote, defensor da honra de quem não quer, lutando e sofrendo num mundo só por ele sonhado. Aproprio-me dele, re-crio, re-escrevo-me... Será que ler demais fará assim tão mal?...



terça-feira, dezembro 27, 2005

Palavras Visíveis/Invisíveis...

Quando as palavras são arrancadas da lama espessa do esquecimento, e lavas numa bacia o objecto-nome até brilhar nas mãos nuas. O nome ficou a brilhar, como aquele paralelo que se soltou dos seus irmãos da calçada para enfrentar o sapato mais incauto.

Ezra Pound é considerado o pai da poesia moderna...

Sabes tão pouco dele...
Já ouviste falar tanto dele há tanto tempo...
Procura.

Chegou a minha vez de retribuir a prenda da (re)descoberta.
Vale mesmo a pena este
sítio, que agradeço à Montanha Mágica, um dos meus blogs favoritos, vale a pena o resumo, para provocar, e vale mesmo a pena fazer o download completo da entrevista.

Para ler num momento de ócio... ou num momento de frenesi.

Ainda não percebo como consegui ler mais de trinta páginas de entrevista... duas vezes.

Obrigado P.

Desculpas...

Sempre a mesma desculpa...

"Não tenho tempo."
"Estou sempre ocupado..."
"Tanta coisa para fazer..."
"Ainda tenho de trabalhar..."
"Ainda tenho tanto para estudar."
"Estou desfeito!..."
"Hoje não é um daqueles dias de blog..."


Todas válidas.
Todas pertinentes.
Todas desculpabilizantes...





Treta.

Este blog é para ti.
Este blog é para os amigos.

Não há desculpa.

Tenho sempre tempo para ti.
Tenho sempre tempo para os amigos.

E ponto final!

sábado, novembro 05, 2005


Ou talvez ainda seja Outono, que deixa o frio entrar devagarinho...
E nos apeteça ainda os frutos desse Outono numa velha mercearia da Estrela...

segunda-feira, outubro 31, 2005

Hoje foi dia de passeio, aproveitando as horas leves que os feriados transportam. E enquanto a tarde durava, lembrei-me tantas vezes...

Misturamos as almas nas coisas
Misturamos as coisas nas almas
Misturamos as vidas
E eis como as almas e as coisas misturadas,
Saem cada uma da sua esfera e se misturam.
(Mauss)

... enquanto se atravessava gordos dilúvios e a furiosa luz de tantos arco-íris (não viram?), até finalmente se avistar a solidão inútil das Berlengas.
E passeando assim, de mão dada, sentir a matéria e a alma de um mundo lavado, limpo.
Um dia transparente, que entra em nós e transborda.
Como a chuva forte que inunda as estradas depois de saturar as terras.